Algum mês no meio de 2007 (não lembro precisamente qual, mas era entre maio e julho). Tinha a convicção que estava surgindo o “renascimento do futebol carioca”. Fazia algum sentido. O Fluminense estava entre os melhores da Copa do Brasil, o Botafogo brigava na ponta do Brasileirão, o Vasco fazia uma campanha digna na Série A e o Flamengo vinha de uma Libertadores decente e dava sinais de que estava se estruturando para voltar a ser forte.
Nem parece que se passaram apenas dois anos. Se todas as divisões do Campeonato Brasileiro terminassem neste momento (a manchete de blog seria), o Flamengo como único carioca na Série A. A Segundona teria quatro representantes do Rio de Janeiro: Botafogo e Fluminense, que cairiam, e Vasco e Duque de Caxias, que estão na Série B e nela permaneceriam. Como comparação, São Paulo teria nove times na elite.
Muito difícil acreditar que esse cenário se mantenha. O Vasco já reage na Segundona e deve se meter entre os quatro primeiros em breve. Também é factível acreditar que Botafogo e Fluminense consigam se recuperar. Nem que seja um deles. De qualquer modo, isso não apaga o fato de que o Rio de Janeiro precisa repensar seu modelo de futebol.
Cada clube tem sua história de crise. Empolgado pela arrancada na reta final do Brasileirão de 2007, o Flamengo quis apressar sua recuperação e passou a gastar mais do que podia, contratando atacantes e meias como se fossem aspirina. Hoje, o time é bom e tem condições de ficar entre os melhores do Brasil, mas está fora da realidade da Gávea e é bem possível que, em 2010, o elenco rubro-negro seja bastante diferente.
Seus conterrâneos passam por momentos mais delicados. O Botafogo vinha em um bom caminho, mas não soube esperar uma melhoria de suas categorias de base. Sem criar seus próprios jogadores, o Alvinegro se vê obrigado a contratar muito, assumindo o risco inerente a essa política. O Fluminense não percebeu que a parceria com a Unimed é interessante na emergência, pois o clube precisa ser autossustentável. Hoje, a relação entre tricolores e a empresa entrou em um impasse: os interesses de uma não coincidem com os da outra. E o Vasco ainda tenta se recuperar dos anos de desorganização.
Como diria Cléber Machado, “os problemas são pontuais, mas são estruturais”. Afinal, há um ponto em comum em todos eles: a ausência completa de pensamento em longo prazo. Aí, não é só falta de visão dos dirigentes, mas também de parte da torcida e até da imprensa.
De fato, os clubes cariocas davam sinais para otimismo em 2007. E não era pelos resultados em campo. Flamengo e Botafogo pareciam ter descoberto um modo de montar times financeiramente acessíveis e vivia rara estabilidade política. O Fluminense continuava com uma equipe bancada pela Unimed, mas as revelações das categorias de base davam a entender que havia um caminho para o futuro próximo. O Vasco ainda cambaleava, mas Eurico Miranda já estava com os dias contados.
O problema é que os trabalhos não foram mantidos, sobretudo na Gávea, em General Severiano e nas Laranjeiras. Fla, Flu e Bota acharam que já haviam terminado o processo de reestruturação, quando, na verdade, este ainda estava no meio. Com isso, o Rio de Janeiro voltou ao patamar de anos atrás: é preciso adotar uma gestão mais profissional, baseada na realidade econômica de cada clube, não mudar de planos no meio do caminho e aceitar que haverá temporadas de vacas magras antes de voltar a ser protagonista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário